Cada uma com seu projeto, mulheres como Morena Leite e Lidiane Barbosa batalham para que as crianças se alimentem melhor nas escolas do país
Rafaela Polo
Quem conhece as escolas brasileiras sabe que, infelizmente, nem sempre elas fornecem alimentação de qualidade aos alunos. Em geral, a regra é o excesso de alimentos ultra processados e a pequena variedade de ingredientes e preparos, especialmente em instituições públicas. Mas, algumas chefs vêm tentando mudar essa realidade em escolas públicas e privadas do país.
COZINHEIROS PELA EDUCAÇÃO
Janaína Rueda, do Bar da Dona Onça, no Centro de São Paulo, fez um dos trabalhos mais reconhecidos nessa área. Por dois anos, a chef comandou, junto ao governo do Estado, um projeto chamado Cozinheiros Pela Educação. Nele, passou a redesenhar o cardápio de parte das escolas da rede pública da cidade e a formar merendeiras.
Sob sua curadoria, os colégios passaram a consumir produtos orgânicos, baniram os ultraprocessados e repensaram receitas para que a alimentação fosse gostosa, saudável e nutritiva.
Nesse período, Janaína chegou a capacitar cerca de 1600 merendeiras. Contudo, a iniciativa foi interrompida sem aviso prévio. Em um artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, a chef desabafou sobre os anos em que se dedicou ao Cozinheiros Pela Educação. “Estou aqui para ajudar a transformar a alimentação das nossas crianças e sigo à disposição para continuar com este objetivo. Enquanto a merenda não se tornar política de Estado, e não apenas do governo, temo que ações como as que fizemos sejam acontecimentos efêmeros e vamos viver sempre como um barco em que o capitão não sabe pra onde ir e muito menos aonde quer chegar e no fim ele naufraga”, escreveu.
CRESCER & SEMEAR
Há cinco anos, a chef Lidiane Barbosa decidiu fazer algo com seus conhecimentos culinários para ajudar o próximo. Mesmo dando aula, ela queria mais. E foi assim que acabou dentro de uma escola pública, ministrando oficinas sobre alimentação para merendeiras, crianças e pais.
O projeto se multiplicou em palestras pelo país, até que, em 2017, a chef transformou a iniciativa na ONG Crescer & Semear, com a qual passou a se dedicar integralmente à ideia de ajudar crianças e pais a se alimentarem melhor.
Morando em Blumenau, a paulistana passou a batalhar por espaço nas escolas públicas da cidade. Com as taxas alarmantes de obesidade alcançando 80% das crianças de escolas públicas do país, Lidiane começou uma campanha na internet, com o apoio da comunidade, para convencer o prefeito da importância de seu projeto. “Começamos em janeiro de 2018. Trabalhamos em 13 das 128 escolas da cidade, pois são as que têm merenda terceirizada. Alcançamos 4.500 crianças com idade de 4 a 14 anos. Mas, nosso maior foco eram as merendeiras, pois sabíamos que através delas conseguiríamos mudar o dia a dia de todos”, conta Lidiane.
Trabalhando com apoio privado, sem recursos públicos, o projeto cresceu e se expandiu pelo país. Em Santa Catarina, continua em Blumenau e também com uma parcela (que seu orçamento permite) dos alunos da cidade de Indaial (Santa Catarina). “Estamos no processo de captação de investimento social”, conta Lidiane, que também está com o Crescer & Semear dentro do Instituto Reação, do atleta de judô Flávio Canto, no Rio de Janeiro.
UMA REALIDADE DIFERENTE
Escolas particulares também estão de olho no cardápio. A partir do ano que vem, a chef Morena Leite, do Capim Santo (em São Paulo), passa a assinar o almoço e os lanches dos alunos do Colégio São Luiz, em São Paulo.
Morena ficará responsável pela cantina da escola e tudo o que diz respeito à alimentação na instituição. Seu objetivo, ali, é oferecer opções mais saudáveis e também retomar memórias afetivas com os sabores.
Acredito que o nosso paladar está ligado à nossa personalidade. A maneira que lidamos com a comida é um reflexo de como lidamos com a vida. Comida para mim é carinho, é compaixão, é cultura, é comunhão, é conectar”, diz a chef Morena Leite explicando seu novo projeto.