A sommeliere vive viajando o país atrás de novos aromas e sabores dos destilados nacionais

Tem muita gente que usa o termo “cachaceiro” de forma pejorativa, passando a mensagem de que a pessoa bebe demais. Mas no caso de Isadora Bello, de 32 anos, a ideia é outra: ela é legitimamente uma apaixonada por cachaça. Tão apaixonada, que largou a carreira de publicitária para trabalhar com a bebida.

Formada em publicidade, Isadora voltou de uma viagem à África determinada a ter uma profissão que fizesse a diferença e deixasse um legado. “A cachaça simboliza a relação que o Brasil tem com ele próprio. Reflete como o brasileiro lida com suas riquezas – embora complexas e profundas, são cheias de histórias que fazem essa mistura que nos une. E justamente por saber que é algo nacional, o povo nega a bebida. Por isso tudo, resolvi me aprofundar no assunto”, conta Isadora, que estava na adolescência quando foi apresentada à bebida pelo próprio pai.

Fora da publicidade, ela foi trabalhar como garçonete e descobriu uma segunda paixão: a de servir. “O brasileiro é muito fã de bebidas fermentadas, como a cerveja, o vinho. Trazer esse olhar para os destilados foi um desafio”, conta. Isadora queria multiplicar conhecimento e inspirar as pessoas através da bebida. “Os destilados estão ganhando cada vez mais espaço. É um mercado muito promissor no Brasil”, explica.

Um dos lados do trabalho de uma sommeliere de destilados consiste em muitas viagens pelo Brasil para conhecer novos produtores e sabores. “A criatividade dos produtores brasileiros é muito expressiva. Nossa flora é rica e as combinações ousadas ajudam a trazer novidades ao negócio”, conta Isadora, que também explica que cada região tem um toque específico de sabor. “Brincamos entre os cachaceiros que cada região do país tem um cheiro. Em Paraty, no Rio de Janeiro, a bebida é mais salobra, porque a produção é mais próxima ao mar. Na Paraíba, a cachaça tem um aroma mais animal característico. Na região sul, por exemplo, as cachaças são mais amenas, leves e adocicadas. Cada lugar tem uma forma de harmonizar, hábitos culturais que combinam com a cachaça que eles consomem”, diz.

A gente sempre disse por aqui que o Brasil é cheio de sabores. E isso vale também para os destilados.