Os meus melhores festejos de São João vivi quando criança, no interior da Bahia. Era sagrado: deixávamos a nossa casa em Salvador rumo à fazenda, em Engenheiro França, eufóricos.
Me lembro da trabalheira que a festa representava para as mulheres da nossa família, já que grande parte das receitas juninas requerem tempo e, quase sempre, muito braço para prepará-las. Ralar o milho para a pamonha e para a canjica (também chamada de curau em grande parte do país), fazer o bolo de milho daquela ‘massa’ que sobra depois de extrair o suco do milho, colocar o milho branco de molho para o mungunzá (também conhecida como canjica em outras partes do Brasil). Na mesa tinha também bolo de carimã, o de macaxeira e o de fubá.
É, as minhas recordações dessa época são todas receitas doces, apesar de saber que em algumas regiões do Nordeste a comemoração é regada por muitos preparos salgados e encorpados, como guisados, mandioca, paçoca de carne de sol. Mas, claro, a gente na Bahia sempre que tem festa ou uma ocasião especial não perde a chance de fazer os pratos com dendê, como o caruru e o vatapá.
Vale lembrar que o São João, no Nordeste, tem status de feriado, com direito a ceia na véspera e até roupa nova. Ouso até dizer que para o baiano do interior é mais importante que o Carnaval! Em meio a toda essa celebração e comilança, a gente ainda saía percorrendo a casa dos vizinhos e dos amigos, quando éramos recebidos por um cálice de licor de jenipapo – quentão e vinho quente só vim conhecer quando me mudei para São Paulo. Em cada parada, éramos convidar a provar todos quitutes, e a grande diversão era analisar e comparar as receitas provadas de cada casa.