Nossa colunista conta como o quitute entrou no cotidiano dos brasileiros e revela qual seu sabor favorito
“Sabe como o hábito de fazer e oferecer bolos começou no Brasil? O bolo já tinha função social na vida portuguesa e, ao chegar aqui, foi ganhando mais e mais importância. Claro, inicialmente, no primeiro século da colonização, nas camadas mais altas da sociedade. Pouco a pouco, deixou de ser exclusivo dos festejos – fossem aniversário, noivados, casamento, visita de “parida” (às novas mães e bebês) – e passou a figurar também como símbolo de solidariedade em enfermidades, condolências (neste caso, a bandeja era coberta por um cetim preto).
Entre muitas variedades, vale destacar o pão-de-ló, um dos mais antigos bolos da história. Foi ele o primeiro a chegar ao país. Era servido com muita pompa: era hábito só nas casas dos padres mais abastados e dos antigos magistrados e chegava à mesa em uma travessa dourada. Ganhava o comensal pela massa fofa e a crosta bem fininha. Curiosamente, uma fatia generosa desta iguaria era servida aos condenados à forca. E sempre acompanhada de uma taça de vinho.
Com o tempo, começaram a aportar por aqui os bolos ‘estrangeiros’, especialmente os europeus e americanos. Do Velho Mundo, o de chocolate era o mais querido; e dos Estados Unidos, o de caramelo. Todos os preparos tinham toque português nos ingredientes, tais como farinha de trigo, ovos e especiarias.
Com o tempo, produtos brasileiros ganharam espaço entre os ingredientes, o que fez surgir o bolo de fubá, o de coco, o de mandioca. Esta era usada in natura, ralada ou em subprodutos como a puba, também chamada de carimã, uma massa extraída da mandioca fermentada. Depois foram se seguindo o uso de leite condensado, creme de leite, marshmallow, sucos de fruta e até guaraná.
Mas, para mim, o que melhor traduz a nossa cultura, o mais gostoso e o mais brasileiro dos bolos, é o Souza Leão. Ícone da culinária pernambucana, é feito com massa puba, gemas, leite de coco, manteiga e açúcar. O sociólogo Gilberto Freyre, um dos pioneiros a estudar a história da alimentação do país, credita o preparo à família que dá nome ao bolo, que depois foi se propagando pelo Estado, especialmente pelos engenhos de cana-de-açúcar, onde cada um desenvolvia sua receita ‘perfeita’”.