Foram dois dias de muita troca, muita história e, claro, muitas receitas

Bel Moherdaui

A primeira Expedição do Instituto Brasil a Gosto para uma Comunidade Quilombola, nos dias 11 e 12 de fevereiro, levou um grupo de 16 pessoas, entre chefs, cozinheiros, jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas para um contato intenso e cheio de aprendizado no Vale do Ribeira (SP).

Nosso objetivo: visitar o Quilombo de Ivaporunduva e de São Pedro para entender um pouco a dinâmica de produção e trabalho das comunidades, experimentar receitas ancestrais, registrar todo esse contato para compartilhar a experiência com mais pessoas e elaborar projetos que tragam frutos para as comunidades locais.

Nos dois dias, visitamos plantações orgânicas de banana e de arroz, fizemos oficina de plantas medicinais, descobrimos novas receitas e ingredientes, e tivemos a oportunidade de participar da reunião de planejamento sobre o sistema agrícola quilombola das comunidades da região, mediada pelo Instituto Sócio Ambiental, que aconteceu no Quilombo de São Pedro.

Ivaporunduva (que quer dizer rio de muitos frutos) fica no município de Eldorado (SP), às margens do rio Ribeira de Iguape. O Quilombo data de 1690, quando uma proprietária de terras da região, viúva e sem parentes, teria morrido. Abandonados, os escravos dela teriam fugido e formado o quilombo. Aos poucos, outros escravos, fugidos da mineração, foram se embrenhando pelo mato e construindo a comunidade. A estrada só chegou por lá em 1968, e foi só em 2010 – há apenas nove anos – que a comunidade conseguiu o registro das terras.

“A terra do quilombo é coletiva. Os empreendimentos são nossos, e dividimos o bolo entre todos”, explica Ditão, um dos líderes da comunidade. Hoje, Ivaporunduva conta com 110 famílias, que vivem de agricultura familiar, na qual o principal produto é a banana orgânica (certificada). São 600 caixas de 20 quilos por semana, vendidas para prefeituras do Estado de São Paulo. “Aqui ninguém passa fome, porque aqui a gente tem terra”, disse Setembrino, outro dos líderes que nos acompanhou.E é verdade. Apenas uma pequena parte (cerca de 20%) do consumo interno é comprado de fora.

Nesses dois dias, tivemos a chance de saborear alguns ingredientes e pratos comuns por lá como o maná cubiu, a taioba, o coentrão, a galinha caipira, o arroz pilado, a banana em diferentes preparos (como o chip e o farné, espécie de bolo feito também com milho), o cuscuz de arroz com amendoim e o biju de mandioca. À noite aconteceu a troca mais rica da viagem, quando as cozinheiras (só elas mandam na cozinha do Quilombo) contaram um pouco das receitas que aprenderam por lá, falaram de sabores e de história. Depois, todos acabaram na cozinha, é claro, experimentando antigos e novos sabores.

Comentários

Deixe um comentário.

O seu endereço de e-mail não será publicado.