Foi na tentativa de aliviar o estresse do cotidiano em uma redação de jornal diário, onde se ocupava dos “áridos fatos do dia a dia” – como ele mesmo descreve –, que o paulistano Luiz Américo Camargo, 50 anos, passou a se dedicar ao universo do comer e beber bem, um tema que ele já adorava, mas tratava como hobby.

 

Por gosto pessoal, começou a estudar sobre vinhos e, em seguida, descobriu o prazer de fazer pães em casa, de fermentação biológica e, especial, com a fermentação natural. Depois de duas décadas pesquisando, buscando os poucos livros disponíveis, “numa época anterior à internet e ao Google”, ele diz, viajando, fazendo aulas esporádicas, tirando dúvidas com padeiros amigos como Rogerio Shimura e Raffaele Mostaccioli, e, principalmente, depois de gastar muita farinha, Luiz Américo se consagrou como um dos maiores especialistas na panificação caseira – autor de uma das obras referência no país, o livro Pão Nosso (Editora Panelinha/Senac, 2013).

 

 

Empenhado em transformar a paixão em caminho profissional, no fim de 2003, o jornalista começou a fazer críticas de restaurantes no Jornal da Tarde (extinto em 2012). No ano seguinte, ali mesmo, participou do nascimento de um novo caderno, o Divirta-se, voltado ao entretenimento. Já em 2005, foi um dos fundadores do Paladar, caderno semanal do jornal O Estado de São Paulo dedicado à gastronomia, até hoje referência do setor. A partir dele, surgiu o Paladar Cozinha do Brasil, primeiro evento dedicado exclusivamente às riquezas alimentares nacionais, que aconteceu de 2006 até 2015. Um resumo dessa trajetória aparece no livro Eu Só Queria Jantar, publicado em julho deste ano (Editora CLA).

 

Há três anos, Luiz Américo deixou o jornalismo de lado e vem se dedicando a consultorias gastronômicas de casas e, principalmente, a curadoria de eventos, como o Taste of São Paulo – festival gastronômico que acontece em 17 cidades pelo mundo e que na capital paulista já teve três edições. Paralelamente, ele se debruça com afinco à panificação artesanal, ministrando aulas (é um dos professores dos cursos livres do Instituto Brasil a Gosto) e palestras, além de estar finalizando seu próximo livro, que deve ser lançado no primeiro trimestre de 2019.

 

Seu mais novo desafio é a posição de consultor de relações institucionais do Instituto Brasil a Gosto, tarefa que encara com entusiasmo: “Nós já evoluímos muito, mas há muito ainda o que desenvolver, conscientizar e avançar com todos os elos da cadeia: produtor, profissionais ligados ao setor de alimentos e bebidas, o comensal, a imprensa. O Peru é um grande exemplo para nós, um país que não é do dito berço culinário mundial, como Itália e França, mas que fez uma revolução gastronômica. Nós também vamos fazer, mas do nosso jeito, no nosso tempo”.