Por:  Rafaela Polo

Definir qual profissão teremos para o resto da vida aos 18 anos tem um peso muito grande. Tem quem acerte em cheio, mas há também pessoas que precisam fazer um caminho mais longo para descobrir qual realmente é seu rumo. Rafaela Medeiros, de 29 anos, viveu o segundo caso e hoje encontrou satisfação entre as panelas.

Há cerca de dez anos, a cearense saiu de sua cidade natal, Pedra Branca (CE), e foi para Fortaleza estudar moda. Durante o curso, começou a vender cupcakes e descobriu na confeitaria um amor muito maior do que aquele que sentia pelos tecidos. Decidiu, então, trancar a matrícula e se dedicar aos doces. “Voltei para a moda mais um período, mas nunca deixei a cozinha de lado. Me dividia”, diz Rafaela.

O amor que ela tem pela culinária surgiu da convivência em família. “Minha mãe, tias e avós têm histórias na cozinha. Minha bisavó tinha uma padaria que minhas tias, avó e mães assumiram depois de sua morte por um tempo, mas depois elas fecharam. Minha avó também tinha um restaurante na época da adolescência da minha mãe que ela e as irmãs cuidavam. Foi lá que elas aprenderam a cozinhar”, conta.

Hoje ela já conta quatro anos entre as panelas, trabalhou em vários lugares, entre eles o Divino Fogão e o Mandi, um dos primeiros restaurantes vegetarianos em Fortaleza. “Depois disso trabalhei como freelancer na cozinha em alguns projetos de amigos. Em paralelo, tenho meu próprio empreendimento, o Pitanga Cozinha, marca que me sustenta hoje. Vendo doces e salgados artesanais baseado em minha experiência”, conta.

O projeto na Escola de Gastronomia Social Ivens Dias Branco surgiu de uma vontade de aprender mais. “Lançaram cursos de confeitaria e de panificação com três meses de duração, me inscrevi. Não tenho formação em gastronomia, acredito que esse respaldo e aprendizado seriam bons. Mas não fui aprovada”, conta. Ela, então, viu no Laboratório de Criação a segunda chance de se especializar no assunto.

“Escrevi um projeto baseado nas vivências que tenho fazendo doces. Vejo que a identidade da confeitaria no meu Estado está banalizada. Queria mudar isso. Afinal, o próprio engenho, para mim, é uma forma de confeitaria, já que produz açúcar, de onde vem o doce”, diz Rafaela.

Após dois meses de trabalho duro com Thiago Andrade, chef do Instituto Brasil a Gosto, Rafaela criou o Leite de Pedra, doce feito com insumos de sua cidade natal – coco e melaço. “A cozinha impacta em tudo na minha vida. Tomei um outro caminho para fazer algo que amo e viver do que gosto. E isso é muito forte, vai além da vida profissional, é importante para minha satisfação pessoal”, diz ela.